Em 2022, as duas instituições respondiam por 299 turmas do Novotec-Expresso, sendo 257 coordenadas pela Proz e 42 pela Sequencial. Em 2023, o Novotec-Expresso ficou novamente a cargo dessas empresas, “que usam recursos públicos para contratar professores para ministrar cursos do itinerário de formação técnica e profissional dentro das próprias escolas públicas”, explica Piolli. Em relação ao Novotec-Integrado, das 33.301 matrículas registradas em junho de 2023, 18.367 estavam vinculadas à Proz e Sequencial.
Os pesquisadores analisaram as formas de contratação dos docentes pelas duas empresas. No caso da Proz Educação, as contratações se deram pelo regime autônomo (contrato bimestral renovável) ou CLT (contrato intermitente). Ela também oferecia vagas de “Professor(a) Eventual Novotec”, “sistema no qual o professor fica de plantão para assumir alguma turma na ausência do professor titular”, diz Piolli.
No site da Escola Técnica Sequencial, os pesquisadores também encontraram anúncios para trabalhar no Novotec: por meio de Pessoa Jurídica (PJ) com empresa constituída e hora-aula variando de R$ 19,00 a R$ 24,00, dependendo da titulação do candidato. “Temos uma situação em que parte significativa da carga horária da educação pública passa a ser ofertada por empresas privadas dentro das escolas públicas, em uma clara privatização e terceirização do ensino, que passa a ser exercido por um contingente de trabalhadores precarizados, com contratos de autônomo ou PJ”, afirma o cientista social.
Nas visitas que fizeram a algumas escolas estaduais, os pesquisadores encontraram situações em que um único professor contratado por essas empresas era responsável por toda a formação técnica dos estudantes. Outra questão que lhes chamou atenção nas conversas que tiveram nessas escolas é como o Novotec é percebido pela gestão e pelos professores. “Quando perguntados sobre os itinerários formativos que a escola oferecia, as respostas sempre caminhavam para ‘a escola tem dois itinerários formativos e o Novotec'”, conta Piolli.
Segundo Piolli, a privatização e terceirização dos docentes do Novotec faz com que o programa seja percebido como uma espécie de implante externo à organização escolar. “A rigor, o Novotec também é um itinerário formativo da escola, mas no discurso dos professores e da gestão ele não aparece dessa maneira, já que os professores do Novotec estão submetidos e respondem diretamente às empresas que o contrataram, parecendo ter pouca relação com a gestão e o coletivo escolar, não participando nem das reuniões coletivas da escola.”
Os pesquisadores identificaram ainda a ausência de uma integração entre os conteúdos da Base Nacional Comum Curricular e o itinerário de formação técnica e profissional oferecido pelas empresas. “A gestão dos cursos ministrados pelas companhias não se reporta à equipe gestora da escola nem à SEDUC. Os dados de frequência dos estudantes, notas e demais registros são encaminhados diretamente às instâncias de controle das empresas e da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, caracterizando o que denominamos de gestão paralela.”
Também constataram desigualdades em relação à oferta do itinerário. Nos cursos ministrados por parceiros públicos, como o Centro Paula Souza, há professores diferentes para cada componente curricular dos cursos e material físico (apostilas) para os estudantes. Já nos cursos oferecidos pela Proz e Sequencial, o mesmo professor ministra todos os componentes curriculares de um curso e há um predomínio de materiais didáticos digitais.
Os programas de oferta dos itinerários formativos estão previstos para serem executados por parceiros públicos e privados até o final de 2024, uma vez que os valores já foram empenhados. No entanto, o governo que tomou posse em 2023 anunciou mudanças expressivas em sua oferta, como a exclusão do programa Novotec e a adoção do que denominou Ensino Médio Paulista.
De acordo com as novas resoluções do Ensino Médio Paulista, o itinerário de formação técnico profissional volta a ficar sob responsabilidade da SEDUC. Outra mudança é que os cursos técnicos integrados ao Ensino Médio serão oferecidos em escolas próprias da rede de ensino estadual ou em escolas de instituições parceiras. “Iremos monitorar essas mudanças e acompanhar o novo formato”, conclui o pesquisador.