Implicações do novo ensino médio na qualidade da educação

Pesquisadores analisam como a reforma do ensino médio poderá impactar e agravar antigos problemas das escolas públicas de São Paulo.

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Por Aline Weschenfelder

O ensino médio passou em 2022 a ter uma organização curricular mais flexível, a partir da Lei nº 13415, permitindo aos estudantes optar por diferentes itinerários formativos. O tempo dos alunos na escola também aumentou de 800 para mil horas anuais. No entanto, a nova organização do currículo na rede escolar pode impactar as escolas e suas propostas político-pedagógicas, o trabalho dos professores e a vida dos estudantes, aprofundando diferenças sociais no sistema de ensino.

A conclusão é de um grupo de pesquisadores do Departamento de Ciências Sociais na Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que está analisando a implementação das novas regras em escolas estaduais das cidades de Campinas e São Roque, no interior de São Paulo.

Sob coordenação da educadora Nora Rut Krawczyk, eles estão entrevistando professores e diretores de ensino, aplicando questionários nos alunos sobre as disciplinas ofertadas e a nova configuração do ensino médio, analisando materiais didáticos, vídeos institucionais produzidos pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo (SEDUC-SP) e dados censitários, entre outros documentos. O objetivo é entender a diversificação da oferta educacional e a influência da dinâmica social e institucional na gestão do Novo Ensino Médio.

As análises feitas até aqui indicam que o aumento da carga horária está provocando um efeito contrário ao de conciliar a realidade dos estudantes ao desenvolvimento de suas competências cognitivas socioemocionais. “Mais horas na escola não significa melhor rendimento no aprendizado. Pelo contrário, os alunos consideram esse período extra muito maçante”, destaca Krawczyk.

Segundo a pesquisadora, as determinações contidas na lei que dá origem à reforma do ensino médio abrem precedentes para situações que afetam o trabalho dos professores, como a inserção de plataformas digitais e aplicativos para a realização de práticas educativas. “O tempo na escola aumentou, a hora-aula para cada disciplina passou a ter menos de 50 minutos, mas isso não significa melhores resultados”, explica. 

“Nesse período, o professor precisa passar lista de presença e colocá-la no sistema em escolas que geralmente têm problemas com a internet.” A educadora destaca que a qualidade da internet varia muito. “Em algumas escolas o sinal é bom, em outras há conexão apenas em determinados ambientes”.

Ela conta que a lei também abre espaço para parcerias entre o estado e instituições privadas que buscam introduzir o itinerário formativo técnico nas escolas. E ressalta que esse tipo de acordo estaria dificultando o trabalho da gestão escolar, pois diminui a autonomia das diretorias de ensino.

De acordo com Krawczyk, possivelmente as mudanças observadas no contexto paulista refletem o que acontece em outros lugares do país. 

Imagem: Freepik

“São Paulo funciona como um laboratório de políticas públicas, por sua força hegemônica e por ter sido o primeiro a implantar a reforma do ensino médio”, diz Krawczyk.

Como a gestão da SEDUC-SP mudou no final de 2023, os pesquisadores agora querem retornar às escolas já visitadas para identificar mudanças consequentes dessa transição. “A atual gestão está fazendo alterações significativas na prática pedagógica, com a inserção de um sistema de plataformas”.

Com o estudo, os pesquisadores buscam contribuir com mais informações por meio da publicação de artigos sobre as consequências da implantação da reforma do novo ensino médio no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), bem como de formações profissionais futuras.

Contribuem com o projeto o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo IFSP – Campus São Roque e  a Rede Ensino Médio em Pesquisa (EMPesquisa).

Sobre o projeto:

O projeto “Novos dispositivos escolares no ensino médio e diversificação da oferta educacional: benefícios e riscos” foi contemplado na chamada nº 40/2022, do Edital Pró-Humanidades do CNPq.

Coordenadora:  Nora Rut Krawczyk (Unicamp)