Os pesquisadores validaram o protocolo em um projeto piloto levado a cabo no segundo semestre de 2022 envolvendo o treinamento de 80 pais e cuidadores na Creche Irmãos Firmo, em Fortaleza, e do Centro de Educação Infantil Olga e Parsifal Barroso, no município de Caucaia.
Após a atividade, aplicaram um questionário para captar opiniões dos indivíduos sobre o impacto do que foi passado no treinamento em seu convívio diário com as crianças. “Queríamos verificar se o currículo era capaz de mudar a percepção dos pais e cuidadores sobre a importância da conversa para o desenvolvimento linguístico das crianças”, diz Irffi. “Nesse caso, verificamos que, sim, o treinamento é capaz de mudar sua percepção sobre isso, o que é um indicativo de mudança de seus comportamentos também”.
A mudança é relatada em diversos depoimentos. Uma mãe respondeu: “Eu acredito que tudo aquilo que a gente ouviu naquele momento nos fazia refletir. E as experiências dos outros pais também me faziam pensar assim ‘ah, eu vou aproveitar isso na criação da minha filha’. Então, eu acho que, se colocarmos em prática todo esse embasamento e conteúdos, vamos ter seres humanos melhores no futuro”.
Além de coletarem as opiniões dos pais e cuidadores participantes do treinamento, por meio de um software, os pesquisadores também captaram dados quantitativos referentes ao número de interações que estes tiveram com as crianças no período. O objetivo era obter uma métrica do impacto do treinamento no desenvolvimento da linguagem nas crianças. “O dispositivo não registra o conteúdo das interações, mas a quantidade de diálogos e de palavras proferidas em cada uma delas, gerando gráficos por hora do dia”, explica Sales. Quanto maior o gráfico, maior o número de vocalizações, indicativo de que mais palavras foram ditas.
Ao compararem os dados dessas crianças com os de crianças de um grupo de pais e cuidadores que não recebeu o treinamento, verificaram que as primeiras escutaram e proferiram mais palavras durante o período avaliado.
Os autores do estudo agora trabalham na organização dos dados para publicação. A ideia é detalhar a intervenção para que outras pessoas entendam como ela pode ser implementada. “O objetivo é disseminar a estratégia para que ela possa ser replicada em outros estados”, diz Sales.