Os impactos do ambiente no desenvolvimento psíquico dos bebês

Pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA) investigam como as adversidades relacionadas ao ambiente em que os bebês vivem podem interferir no desenvolvimento socioemocional da criança e repercutir no seu ciclo de vida.

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Por Aline Weschenfelder

Falta de apetite, choro constante, dificuldade para dormir e perda de peso são fatores de risco no desenvolvimento infantil, alertam pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA) que estão conduzindo um estudo para investigar as variáveis que podem impactar no desenvolvimento socioemocional de crianças entre três e 24 meses de idade. “Esses são fatores que chamamos de estresse tóxico”, explica o psicólogo Janari da Silva Pedroso, professor nos Programas de Pós-Graduação em Psicologia e em Teoria e Pesquisa do Comportamento da UFPA e coordenador do projeto de pesquisa.

O desenvolvimento socioemocional se refere à forma como as crianças interagem com as pessoas, lidam com as adversidades e expressam os sinais emocionais. Os pesquisadores apontam que o ambiente pode interferir de diferentes maneiras na formação socioemocional dos bebês. E os impactos, positivos ou negativos, resultam principalmente do perfil do cuidador.

“Pessoas com muitas dificuldades, vícios ou depressão pós-parto, por exemplo, podem influenciar negativamente nessa primeira fase da vida”, destaca Pedroso.

A investigação tem como eixo central observar a adaptação de bebês frente às possíveis adversidades ambientais. Segundo o psicólogo, para compreender os impactos do ambiente sobre os bebês é importante acompanhar não só o espaço em que estes vivem ou a personalidade do cuidador, mas também as variações emocionais da criança, que são percebidas por movimentos, expressões faciais, choro ou pela ruborização da face. “As reações podem ser observadas até mesmo quando a criança é chamada pelo nome”, complementa.

Pedroso aponta que as condições ideais para um desenvolvimento saudável são sempre improváveis, independentemente do contexto social ao qual pertence a criança. “Pode haver uma família que esteja bem emocional e financeiramente, mas do nada os pais ficam desempregados”, cita ele como exemplo. “Queremos entender como isso irá interferir no desenvolvimento do bebê”, acrescenta.

As equipes da pesquisa já estão preparadas e a coleta de dados terá início nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) de Belém do Pará. O processo de análise será feito a partir do exame das carteiras de saúde das crianças, quando presentes nas UBS junto às suas mães. Posteriormente, os dados serão articulados aos aspectos psicológicos observados nos ambientes em que vivem.

Imagem: freepik

A pesquisa deve se estender para outras localidades, a fim de comparar as diversas realidades que se apresentam nas diferentes regiões brasileiras, desde a Amazônia ao sul do país. Nesse sentido, os pesquisadores esperam apontar contrastes no desenvolvimento infantil, de acordo com o contexto geográfico. O psicólogo, que já analisou o desenvolvimento de crianças em aldeias indígenas, relata que informações sobre o desenvolvimento infantil dessa população é escasso, principalmente em relação aos aspectos socioemocionais. “Temos muito conhecimento do desenvolvimento de crianças no contexto americano e europeu, então a intenção é trabalhar também com os aspectos étnicos para poder produzir algo que dê conta dessas realidades”, diz ele.

O estudo que realizou na aldeia sede da etnia dos Tenetehar-Tembé mostra a preocupação dos adultos em relação ao desenvolvimento infantil. Segundo relato do cacique entrevistado para a investigação, “a criança é cuidada para que não tenha um aprendizado distorcido”. Os resultados daquela pesquisa também apontam para uma relação próxima entre crianças e seus cuidadores, com estes fazendo recomendações e proibições em relação aos ambientes em que os pequenos transitam a fim de protegê-los, o que, segundo os cientistas, influencia diretamente no curso desenvolvimental dos indivíduos. “Entende-se ser necessário refletir sobre a maneira como os cuidadores tratam suas crianças e no que acreditam ser adequado ao cuidado delas, correlacionando com o ambiente em que são cuidadas, uma vez que essa relação se configura e é construída no meio sociocultural em que estão inseridos”, avaliam os autores.

A partir dos resultados da investigação atual, os pesquisadores também pretendem produzir vídeos a serem disponibilizados para mães e cuidadores, contendo informações e orientações voltadas ao desenvolvimento socioemocional de bebês. Além dos Programas de Pós-Graduação em Psicologia e em Teoria e Pesquisa do Comportamento da UFPA, o estudo envolve também a Secretaria Municipal de Saúde de Belém do Pará e mais cinco instituições de ensino superior: a Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), a Universidade Católica de Santos (UNISANTOS), a Universidade Católica de Brasília (UCB), a Universidade Federal do Vale do Parnaíba (UFDPAR) e a Technische Universität Dortmund, na Alemanha.

Os pesquisadores ressaltam que, como no Brasil ainda se investe pouco em investigações sobre variáveis que impactam no desenvolvimento socioemocional de bebês, estudar a relação entre neurodesenvolvimento, temperamento infantil, traços da personalidade materna, práticas parentais e o desenvolvimento socioemocional de bebês ganha relevância na Saúde Pública. A pesquisa deverá ainda oferecer novos aportes teóricos para a área da Psicologia que trabalha com o tema.

 

Sobre o projeto

O projeto  “Desenvolvimento socioemocional, práticas parentais e constituição psíquica de bebês” foi contemplado na Chamada nº 40/2022, do Edital Pró-Humanidades do CNPq.

Coordenador: Janari da Silva Pedroso (UFPA)