A pesquisa deve se estender para outras localidades, a fim de comparar as diversas realidades que se apresentam nas diferentes regiões brasileiras, desde a Amazônia ao sul do país. Nesse sentido, os pesquisadores esperam apontar contrastes no desenvolvimento infantil, de acordo com o contexto geográfico. O psicólogo, que já analisou o desenvolvimento de crianças em aldeias indígenas, relata que informações sobre o desenvolvimento infantil dessa população é escasso, principalmente em relação aos aspectos socioemocionais. “Temos muito conhecimento do desenvolvimento de crianças no contexto americano e europeu, então a intenção é trabalhar também com os aspectos étnicos para poder produzir algo que dê conta dessas realidades”, diz ele.
O estudo que realizou na aldeia sede da etnia dos Tenetehar-Tembé mostra a preocupação dos adultos em relação ao desenvolvimento infantil. Segundo relato do cacique entrevistado para a investigação, “a criança é cuidada para que não tenha um aprendizado distorcido”. Os resultados daquela pesquisa também apontam para uma relação próxima entre crianças e seus cuidadores, com estes fazendo recomendações e proibições em relação aos ambientes em que os pequenos transitam a fim de protegê-los, o que, segundo os cientistas, influencia diretamente no curso desenvolvimental dos indivíduos. “Entende-se ser necessário refletir sobre a maneira como os cuidadores tratam suas crianças e no que acreditam ser adequado ao cuidado delas, correlacionando com o ambiente em que são cuidadas, uma vez que essa relação se configura e é construída no meio sociocultural em que estão inseridos”, avaliam os autores.
A partir dos resultados da investigação atual, os pesquisadores também pretendem produzir vídeos a serem disponibilizados para mães e cuidadores, contendo informações e orientações voltadas ao desenvolvimento socioemocional de bebês. Além dos Programas de Pós-Graduação em Psicologia e em Teoria e Pesquisa do Comportamento da UFPA, o estudo envolve também a Secretaria Municipal de Saúde de Belém do Pará e mais cinco instituições de ensino superior: a Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), a Universidade Católica de Santos (UNISANTOS), a Universidade Católica de Brasília (UCB), a Universidade Federal do Vale do Parnaíba (UFDPAR) e a Technische Universität Dortmund, na Alemanha.
Os pesquisadores ressaltam que, como no Brasil ainda se investe pouco em investigações sobre variáveis que impactam no desenvolvimento socioemocional de bebês, estudar a relação entre neurodesenvolvimento, temperamento infantil, traços da personalidade materna, práticas parentais e o desenvolvimento socioemocional de bebês ganha relevância na Saúde Pública. A pesquisa deverá ainda oferecer novos aportes teóricos para a área da Psicologia que trabalha com o tema.
Sobre o projeto
O projeto “Desenvolvimento socioemocional, práticas parentais e constituição psíquica de bebês” foi contemplado na Chamada nº 40/2022, do Edital Pró-Humanidades do CNPq.
Coordenador: Janari da Silva Pedroso (UFPA)