O impacto do cooperativismo de crédito no agronegócio

Estudo constata que empréstimos garantidos pelo Fundo Garantidor de Investimentos do Programa Emergencial de Acesso ao Crédito concedidos por cooperativas ajudam micro e pequenas agroindústrias a gerarem mais empregos e aumentar salários

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Por Rodrigo de Oliveira Andrade

Empresas agroindustriais desempenham papel estratégico no desenvolvimento econômico do Brasil, por meio da geração de emprego e renda, e da dinamização das regiões onde estão instaladas — e o crédito é fundamental para que esses empreendimentos prosperem, gerem mais empregos e paguem melhores salários. No caso de micro e pequenas agroindústrias, empréstimos garantidos pelo Fundo Garantidor de Investimentos do Programa Emergencial de Acesso ao Crédito (FGI-PEAC), sobretudo os concedidos por cooperativas, têm se mostrado particularmente eficazes para impulsionar esse crescimento.

A conclusão consta de um estudo desenvolvido por um grupo de pesquisadores de diferentes instituições de ensino e pesquisa que avaliou os impactos de empréstimos garantidos pelo FGI-PEAC em empresas agroindústrias brasileiras de diferentes portes.

O FGI PEAC é um programa de garantia do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que visa facilitar o acesso a crédito por micro, pequenas e médias empresas com receita bruta igual ou inferior a R$300 milhões. A iniciativa busca proteger empregos e renda, ao mesmo tempo em que reduz o risco de inadimplência para as instituições financeiras, incentivando-as a conceder mais crédito.

Do ponto de vista dos bancos comerciais, a garantia do FGI PEAC mitiga o risco de crédito, dado que o Fundo cobre até 80% do valor principal da dívida, caso o devedor não pague o empréstimo. Nesse cenário, destaca-se a atuação das cooperativas de crédito, com potencial para mitigar o que os pesquisadores chamam de “falhas de mercado”.

Diferentemente dos bancos comerciais, as cooperativas não são obrigadas a atender às expectativas de lucro de acionistas. Seus administradores tampouco recebem bônus vinculados aos lucros, o que reduz a probabilidade de elas concederem empréstimos audaciosos voltados à maximização de resultados de curto prazo.

Nesse sentido, os pesquisadores decidiram avaliar os impactos socioeconômicos dos empréstimos garantidos pelo FGI PEAC na capacidade das agroindústrias brasileiras de gerarem mais empregos e pagarem melhores salários, comparando o desempenho das que obtiveram crédito via cooperativas com o das que recorreram a bancos comerciais. Para isso, debruçaram-se sobre microdados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) e de empresas beneficiadas por empréstimos garantidos pelo FGI PEAC entre 2013 e 2021.

Verificaram que a capacidade de geração de empregos das agroindústrias que obtiveram crédito garantido pelo Fundo por meio de bancos comerciais, independentemente do porte, foi 8,86% superior em relação às que não tiveram acesso a esse tipo de empréstimo. No caso específico das micro e pequenas agroindústrias, esse percentual foi de 8,71%, enquanto nas médias e grandes, o desempenho foi 2,74% superior ao das agroindústrias não beneficiadas.

Os pesquisadores também observaram impactos positivos no caso das agroindústrias que obtiveram crédito garantido pelo FGI PEAC por meio de cooperativas, sendo o desempenho das micro e pequenas agroindústrias na geração de empregos 8,57 pontos percentuais superior em relação àquelas que tomaram crédito via bancos comerciais. 

“As médias e grandes agroindústrias não apresentaram resultados significativos, o que reforça o papel das cooperativas na geração de emprego pelas micro e pequenas agroindústrias brasileiras”, destaca o economista Marcelo Dias Paes Ferreira, da Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Minas Gerais, um dos coordenadores do estudo.

De modo geral, as agroindústrias que tomaram crédito com garantia do FGI PEAC via bancos comerciais tiveram desempenho 1,86% superior no salário médio pago aos funcionários em relação às que não obtiveram crédito. No caso das micro e pequenas agroindústrias, o desempenho foi 2,13% superior. “Em outras palavras, para cada R$ 1.000,00 pagos em salários pelas agroindústrias não beneficiadas, as beneficiadas pagaram R$ 1.021,30”, destaca Ferreira.

As agroindústrias que tiveram crédito garantido pelo FGI PEAC concedido via cooperativas, independentemente do porte, também tiveram desempenho de 2.97 pontos percentuais superior no salário médio em relação às agroindústrias que tomaram o mesmo tipo de crédito via bancos comerciais; nesse caso, o desempenho das micro e pequenas agroindústrias foi 2.77 pontos percentuais superior em relação aos bancos comerciais.

Da mesma forma, o crédito garantido pelo FGI PEAC concedido por bancos tradicionais fez com que as agroindústrias brasileiras, independentemente do porte, tivessem um desempenho 10,73% superior na massa salarial (a soma de todos os salários e remunerações pagos pela empresa aos seus funcionários) em relação às agroindústrias não beneficiadas. Nesse caso, o desempenho das micro e pequenas agroindústrias foi 10,85% superior, enquanto o das médias e grandes empresas foi 2,93% superior, em comparação às agroindústrias não beneficiadas.

Quanto aos resultados das agroindústrias que tiveram crédito garantido pelo FGI PEAC concedido via cooperativas, o desempenho foi 22,19% superior na massa salarial em relação às agroindústrias que não obtiveram crédito. 

Em geral, os resultados positivos e significativos no estoque médio de emprego, salário médio e massa salarial das agroindústrias beneficiadas pelo FGI PEAC trazem convergência com o propósito do programa FGI PEAC de proteger o emprego e a renda em prol da preservação dos agentes econômicos, em cenário de adversidade econômica..

Na avaliação dos pesquisadores, esses resultados também reforçam o papel das cooperativas de crédito quanto ao seu efeito mitigador de falhas de mercado, considerando a localização geográfica e a proximidade com os cooperados. “Esperamos que esses resultados possam contribuir para o aprimoramento de boas práticas de institucionalização dos fundos garantidores de crédito no agronegócio”, conclui Ferreira.

Sobre o projeto

O projeto “Cooperativismo de crédito no Brasil: eficiência comparada e impactos no agronegócio” foi contemplado na Chamada nº 40/2022, do Edital Pró-Humanidades do CNPq. 

Coordenador: Marcelo Dias Paes Ferreira (UFV)