Nas últimas duas décadas, o Brasil registrou um avanço significativo na diversificação racial e econômica do ensino superior, segundo dados do Censo da Educação Superior 2022, divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Se em 2001, as classes C, D e E representavam apenas 19,3% dos matriculados, em 2021 passaram a responder por mais de 50% dos discentes. Estudantes pretos, pardos e indígenas se tornaram maioria no ensino superior.
De acordo com especialistas, esse avanço está diretamente ligado à implementação de políticas públicas como o Prouni, o Fies e o sistema de cotas.
Frente a esse panorama, um estudo da Universidade de Passo Fundo (UPF), no Rio Grande do Sul, coordenado pela assistente social e professora do Departamento de Saúde da instituição, Cristina Fioreze, está analisando se a diversidade no perfil dos estudantes pode influenciar a formação profissional. A pesquisa parte da hipótese de que cursos com maior heterogeneidade social contribuem mais para a formação de profissionais comprometidos com o bem público, ou seja, com responsabilidade social e sensibilidade para as desigualdades do país.
Na etapa quantitativa do estudo, foram examinadas quatro edições do Enade, entre 2013 e 2022. Os dados mostram maior diversidade nos cursos de universidades públicas e indícios de diferenças significativas entre áreas. Cursos como Medicina e Direito mantêm um perfil mais elitizado, enquanto licenciaturas e enfermagem concentram maior heterogeneidade. Já a etapa qualitativa, realizada por meio de grupos focais, buscou entender como os próprios estudantes percebem o impacto dessa convivência com a diferença.
O relato dos alunos revelou efeitos significativos. “A fala mais recorrente entre os participantes foi que essa convivência amplia sua visão de mundo e devem os tornar profissionais melhores”, ressalta Fioreze.
Por outro lado, muitos estudantes relataram situações de despreparo institucional e docente frente à diversidade, como falta de acolhimento a alunos com deficiência ou de sensibilidade diante das realidades socioeconômicas dos discentes.
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