Mediações entre Violência Armada, Educação e Cultura em Territórios Periféricos: Um Estudo sobre Crianças, Adolescentes e Jovens do Conjunto de Favelas da Maré, no Rio de Janeiro

Coordenador Eduardo Ribeiro da Silva (UFRJ)

A principal hipótese do projeto é que a violência armada limita condições e oportunidades sociais e educacionais, interferindo negativamente nas vidas de crianças, adolescentes, e jovens, alunos e no cotidiano das escolas. Pressupõe-se que alunos e alunas que estudam em escolas situadas em territórios com maiores níveis de violência armada, e aqueles que residem em localidades mais violentas, obtenham, em média, piores resultados educacionais. A mesma lógica se aplica às escolas. Aquelas situadas em territórios com alta concentração de violência, ou que, mesmo estando fisicamente fora de áreas conflagradas, atendem às suas populações residentes, tenderiam a apresentar, por diversas razões, resultados e qualidade do ensino inferiores aos das escolas não sujeitas a estes efeitos contextuais. Sob ambas as perspectivas, a violência armada constitui uma das muitas formas através das quais a concentração territorial da pobreza e das vulnerabilidades sociais se reproduz, na medida em que esta intensifica dinâmicas de segregação residencial, exclusão e isolamento sociocultural. Os efeitos da violência interagem com outras desvantagens que se acumulam sobre pessoas, grupos e lugares. Tais fenômenos e condições estruturais se tornam particularmente perversos considerando a sobreposição de desvantagens comparativas decorrente da configuração socioterritorial da cidade do Rio de Janeiro. Neste contexto, o presente projeto toma os impactos educacionais da violência armada como mote transversal para pensar, no âmbito da Sociologia da Educação, questões relacionadas à geração e manutenção de desigualdades de condições e oportunidades educacionais, sobretudo em áreas periféricas, como no Conjunto de 16 favelas da Maré. A principal motivação está intimamente ligada à perspectiva de gerar dados inéditos sobre a educação no complexo da Maré, território com população em situação de vulnerabilidade social, para gerar evidências que possam fomentar o desenvolvimento social.

OBJETIVOS: 1) Estimar níveis de exposição à violência de pessoas entre 12 e 24 anos residentes na Maré. O mesmo instrumento servirá para obter variáveis contextuais, como participação cultural, perfis educacional e socioeconômico. 2) Estimar níveis de desenvolvimento cognitivo e socioemocional de crianças matriculadas em escolas da Maré, na educação infantil e 1º ano do fundamental. 3) Explorar fontes secundárias que ofereçam dados sobre violência e escola, como questionários contextuais do SAEB/Prova Brasil (2007 a 2023) e a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE 2015, 2019). 4) Georreferenciar endereços de domicílios entrevistados em 2019 pela pesquisa Construindo Pontes, para estimar exposição familiar à violência no entorno das escolas. 5) Relacionar dados sobre violência armada com resultados educacionais e outros fatores. 6) Realizar entrevistas qualitativas com professores, gestores e moradores, sobre suas percepções em relação à violência e educação na Maré.

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