Mapeamento de Sistemas Agrícolas Camponeses Resilientes às Mudanças Climáticas e Desertificação do Semiárido Brasileiro

Coordenador Aldrin Martin Pérez Marin (UFCG)

As terras secas, com diversos grados de aridez, representam cerca de 55% da área continental do planeta, correspondendo a 2/3 da superfície total de 150 países e se encontram entre as regiões mais excluídas pela maioria dos programas de desenvolvimento. Estima-se que 42% da população mundial viva nestas áreas e que 22% da produção mundial de alimentos tem origens nestes ambientes. No Brasil, as terras secas, restringem-se ao “Semiárido Brasileiro”, que estende-se por uma área superior a 900.000 km2, compreendendo 1.135 municípios das porções territoriais dos Estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e Norte de Minas Gerais, representando 11,5% do território Nacional, abrigando uma população de superior a 23,8 milhões de pessoas, dos quais 8,6 milhões residem no meio rural. Daqueles 14,7 milhões que residem em áreas urbanas, uma parcela significativa vivencia uma dinâmica rural, uma vez que 90% dos municípios de região semiárida são classificados como pequenos, por apresentarem menos de 50.000 habitantes. Além disso, a região apresenta 1,7 milhões de estabelecimentos rurais, sendo 1,0 milhão com menos de 5,0 hectares, mas que respondem por 31% do valor da produção dessa região. O uso intensivo da terra é o principal vetor da Desertificação na região, que com advento das mudanças climáticas será uma das regiões mais afetadas, uma vez que, além dos cenários de aumentos de temperatura poderá ocorrer um aumento na frequência e na intensidade das secas e consequentes reduções na disponibilidade de recursos hídricos. Essas alterações no clima, juntamente com os processos de desertificação na região resultarão em impactos sobre a vegetação, a biodiversidade e sobre as atividades que dependem dos recursos naturais. Com esses prognósticos, há forte demanda de pesquisa relativa à avaliação dos impactos da desertificação e das mudanças climáticas na região, bem como o desenvolvimento e a adoção de medidas de mitigação e adaptação, que levem em consideração a heterogeneidade da agricultura camponesa, a diversidade de estratégias que os agricultores familiares vêm utilizando e que ainda utilizam para enfrentar secas prolongadas ou processos de desertificação. Ao redor do mundo muitas famílias vêm respondendo as condições climáticas cambiantes, demonstrando inovação e resiliência frente as mudanças climáticas e desertificação. É o que se vê, por exemplo, na agricultura familiar no semiárido brasileiro, que vem promovendo processos de intensificação da produção baseados na valorização dos recursos locais, no emprego de tecnologias e práticas de manejo que diversificam os sistemas produtivos com atividades que se complementam e permitem a formação de estoques (água, forragem, alimentos e sementes) e uma maior circulação de nutrientes dentro do agroecossistema. Nesse contexto, o resgate e mapeamento de sistemas agrícolas familiares camponeses em zonas áridas e semiáridas, em combinação com o uso de estratégias agroecológicas, podem indicar alternativas viáveis e solidas para incrementar a produtividade, a sustentabilidade e a resiliência da produção agrícola familiar. Estas observações tornam-se ainda mais relevante, num mundo cada vez mais dependente de agroecossistemas industriais, concentrados na produção de grãos e altamente vulneráveis. Assim, a revelação de que muitos agricultores familiares de zonas áridas e semiáridas, não unicamente lidam com a variação climática e desertificação, mas que de fato se preparam para as mudanças, minimizando as perdas é de grande relevância para a seguridade alimentaria global. Nesse sentido, projetos que almejem uma ação efetiva no mapeamento das estratégias de convivência e organização de sistemas produtivos inovadores e que ao mesmo tempo proponham uma convivência sustentável em zonas áridas e semiáridas devem ser fortemente orientados para fomentar e aperfeiçoar políticas de desenvolvimento mais efetivas e aportes de conhecimento e tecnologias. Esse aperfeiçoamento é necessário para que ações pontuais tenham um efeito multiplicador significativo, alcançando maior número de camponeses e espaços mais extensos. Projetos com esse enfoque parecem fundamentais para a manutenção e melhoria da renda dos camponeses, num contexto de preservação ambiental Com base essa problematização, nasce o presente projeto de pesquisa a partir de uma articulação entre o núcleo de pesquisa sobre Desertificação e Agroecologia do Instituto Nacional do Semiárido e o Movimento de Pequenos Agricultores (MPA), conjuminando a ciência, tecnologia e inovação com a inclusão social, voltadas a construir alternativas de convivência produtiva e sustentável com o Semiárido brasileiro. Desta forma o objetivo central da pesquisa constituí na realização de estudos socioeconômicos e ecológicos em unidades agrofamiliares em condições semiáridas, distribuídos nos Estados de PI, SE, PE e BA, visando elucidar as estratégias agrícolas e sociais utilizadas pelos agricultores que lhes têm possibilitado resistir e/ou recuperar-se dos impactos dos eventos ambientais extremos.