Qual o papel social de arquitetos e urbanistas?

Pesquisadores analisam trabalhos de conclusão de mestrados profissionais em arquitetura e urbanismo a fim de observar seus impactos na mitigação da segregação socioespacial

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Por Rodrigo de Oliveira Andrade

Pesquisadores do Grupo de Pesquisa em Projeto de Arquitetura e Percepção do Ambiente da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) estão analisando trabalhos de conclusão de curso (TCC) de mestrado profissional em arquitetura e urbanismo para tentar determinar seu impacto socioambiental, sociocultural e sociotécnico.

Para isso, selecionaram 24 trabalhos, defendidos em seis programas profissionais e indicados como sendo os de melhor qualidade pelos próprios coordenadores na última avaliação quadrienal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), usada para aferir a qualidade dos cursos de mestrado e doutorado, acadêmicos e profissionais, e nortear a distribuição de bolsas e verbas.

Desde a última avaliação da Capes, relativa ao período entre 2017 e 2020, os responsáveis pelos programas de pós-graduação passaram a poder indicar os trabalhos de destaque de seus alunos e pesquisadores — até então, eles preenchiam apenas um questionário com informações sobre a proposta do programa, a qualificação do corpo docente, o perfil dos estudantes e o contingente de trabalhos publicados nos estratos mais altos do Qualis, sistema de classificação de revistas científicas da Capes.

Os trabalhos de conclusão de curso defendidos em programas profissionais geralmente assumem o formato de projetos (representação gráfica da ideia) ou planos de intervenção, acompanhados por relatórios técnicos (discurso textual dos autores).

As análises preliminares desses documentos indicam que, em geral, os TCCs apresentam dois tipos de impacto: real e potencial. “O impacto real diz respeito a resultados concretos e mensuráveis, quando o produto de pesquisa é efetivamente utilizado pelo público alvo, ao passo que o potencial é aquele que, no futuro, pode resultar em um impacto real”, explica a arquiteta e urbanista Gleice Virginia Medeiros de Azambuja Elali, do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFRN e coordenadora do projeto.

Dos trabalhos avaliados, apenas 20% tiveram impacto real. Caso de uma proposta de escola adaptada ao clima semiárido, cujo projeto arquitetônico foi adotado pela Secretaria de Educação do Rio Grande do Norte; outro trabalho apresentou um projeto urbanístico que acabou subsidiando a elaboração do plano diretor de uma cidade no interior do Rio de Janeiro; um terceiro desenvolveu uma proposta de restauro de prédios históricos depois incorporada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Os TCCs em análise abrangem uma ampla variedade de temas, incluindo desenhos e planejamentos urbano, paisagístico e arquitetônico, com enfoques que vão do desenvolvimento de novas edificações a intervenções em edifícios já existentes. “Esse dado, por si, mostra o quão diversos são os produtos desenvolvidos e as temáticas trabalhadas nos programas profissionais de arquitetura e urbanismo no Brasil”, comenta Elali. 

Os pesquisadores planejam concluir as análises de todos os trabalhos até maio. A expectativa é que os resultados contribuam para a melhoria dos cursos de mestrado profissionais na área. “Nosso trabalho evidencia a importância de aprofundarmos a discussão sobre o papel social do arquiteto e urbanista para além da mera construção de edificações, mas também no sentido de eles pensarem seus projetos à luz de seus impactos na mitigação da segregação socioespacial, a qual faz com que grande parcela da população tenha dificuldade no acesso às infraestruturas urbanas”, diz. “É também importante que os programas integrem diferentes dimensões do impacto em seu planejamento estratégico, no processo de autoavaliação, nos TCCs e nas atividades de extensão.”

Vinculados majoritariamente a instituições de ensino superior públicas, os programas de mestrado profissional em arquitetura e urbanismo já formaram mais de 700 estudantes no país. A pesquisadora explica a razão da escolha desses cursos como objeto de estudo. “Esses programas se caracterizam por trabalhos mais propositivos, de modo que ocupam uma posição privilegiada para aproximar a pesquisa da prática profissional, ampliando o alcance de suas atividades dentro e fora da academia”, diz Elali.

Sobre o projeto

O projeto “Mestrados profissionais de arquitetura e urbanismo brasileiros: impactos dos Trabalhos de Conclusão de Curso” foi contemplado na Chamada nº 40/2022, do Edital Pró-Humanidades do CNPq. 

Coordenador: Gleice Virginia Medeiros de Azambuja Elali (UFRN)