Poluição em portos aumenta risco de internações

Concentrações de poluentes nas áreas próximas aos portos aumentam a probabilidade de hospitalizações por doenças respiratórias em grupos mais vulneráveis como bebês, crianças e idosos, segundo estudo

Notícias

Por Rodrigo de Oliveira Andrade

A exposição à poluição proveniente de zonas portuárias parece estar associada a uma maior probabilidade de internação por doenças respiratórias em bebês e idosos, segundo estudo que avaliou os efeitos da poluição atmosférica nas hospitalizações de pessoas que vivem nas proximidades dos portos de Santos, em São Paulo, e de Vitória, no Espírito Santo.

O transporte marítimo é responsável por até 80% do comércio global de mercadorias, gerando cerca de 3% das emissões de gases de efeito estufa, além de liberar poluentes nocivos à saúde, como material particulado (PM10), óxidos de nitrogênio (NOx) e óxidos de enxofre (SOx). Os portos concentram grande parte desses poluentes, sendo o tráfego de navios, o tempo de atracação e o volume de carga movimentado fatores determinantes para o nível de poluição.

Sob coordenação da economista Flávia Lúcia Chein Feres, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), em Minas Gerais, os pesquisadores analisaram dados de hospitalizações do Sistema de Internações do Sistema Único de Saúde (SUS), que incluem o CEP de residência dos pacientes, a data e a duração da internação, a idade, os gastos hospitalares, o gênero, a raça, entre outras variáveis.

Em seguida, cruzaram essas informações com dados da atividade portuária nos portos de Santos e Vitória, disponibilizados pela Agência Nacional de Transportes Aquaviários, e com dados sobre poluição do ar, obtidos junto à Companhia Ambiental do Estado de São Paulo e ao Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Espírito Santo, que realizam coletas horárias de diversos poluentes por meio de diferentes monitores.

Dessa forma, puderam explorar a chamada “variação exógena quase aleatória” da movimentação nos portos para estimar o impacto da poluição do ar na saúde da população que vive em suas proximidades. O que caracteriza essa variação como exógena é o fato de que a movimentação nos portos (variável instrumental) está correlacionada com a poluição do ar (variável independente) e não correlacionada diretamente com a saúde humana (resultado de interesse).

As análises indicam que a combinação de níveis de atividade portuária, aumento na tonelagem (capacidade de carregamento das embarcações) e atracação adicional de navios eleva as concentrações de material particulado, nas áreas próximas aos portos, o que, por sua vez, aumenta a probabilidade de hospitalizações por doenças respiratórias em grupos mais vulneráveis, como bebês, crianças e idosos. 

“O aumento de 1% na tonelagem aumenta a probabilidade de internações de bebês em aproximadamente 0,027% e de idosos em 0,011%”, destaca Flávia Chein. “Ou seja, quanto maior o volume de movimentação portuária, maior a probabilidade de se observar consequências negativas na saúde da população que vive em seu entorno.”

Na avaliação da pesquisadora, os resultados permitem considerar a possibilidade de tornar os portos mais sustentáveis, proporcionando ar mais limpo e mitigando seus impactos negativos sobre a sociedade. “Políticas voltadas à redução das emissões dos navios podem beneficiar a população que vive no entorno dos terminais e causar menos impacto sobre o clima”, afirma. “Também poderiam ser consideradas políticas de compensação, tanto para os indivíduos afetados quanto para o SUS, como investimentos em infraestrutura e serviços de saúde nas áreas impactadas”, acrescenta.

De acordo com a economista, programas públicos voltados à prevenção e educação sobre os efeitos da poluição do ar, além da destinação de parte das receitas fiscais geradas pelas atividades portuárias ao financiamento da saúde pública nessas regiões seriam outras estratégias possíveis.

Os pesquisadores agora pretendem usar as evidências geradas no estudo para desenvolver modelos de avaliação de riscos e políticas focadas no bem-estar da população.



Sobre o projeto: 

O projeto “Mudanças climáticas, eventos extremos e seus efeitos sobre as condições de bem-estar das famílias” foi contemplado na Chamada nº 40/2022, do Edital Pró-Humanidades do CNPq.

Coordenadora científica: Flávia Chein (UFJF)