Planejamento para uma produção industrial sustentável

Estudo propõe modelos estratégicos para empreendedores do Ceará, visando reduzir possíveis impactos sociais e ambientais decorrentes da produção do chamado hidrogênio verde em um complexo industrial e portuário do estado.

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Por Aline Weschenfelder

O hidrogênio verde tem se revelado como uma solução favorável ao combate às emissões de gases de efeito estufa. A partir desse potencial, pesquisadores do Laboratório de Estudos em Competitividade e Sustentabilidade da Universidade Federal do Ceará (LECoSUFC) buscam implantar um planejamento sustentável para a sua produção no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP), parque industrial localizado na região metropolitana de Fortaleza, a 60 quilômetros da capital.

A produção do hidrogênio verde é realizada a partir da decomposição da água em hidrogênio por meio da passagem de uma corrente elétrica, porém utilizando fontes renováveis – como a solar, a eólica ou a hidráulica -, que não emitem gases de efeito estufa ao gerar eletricidade, ao contrário do hidrogênio convencional, produzido a partir de combustíveis fósseis.

No caso do Ceará, apesar de haver hidrelétricas, as matrizes energéticas de maior destaque são a eólica, a solar e a termelétrica. “Sendo assim, temos que direcionar nossa produção voltada a esse tipo de energia para o Hub do hidrogênio verde”, explica Mônica Sá de Abreu, pesquisadora no LECoSUFC e coordenadora do projeto.

O Hub é uma forma de atrair indústrias voltadas à inovação e que desenvolvem métodos para que uma determinada produção seja viabilizada. No caso do hidrogênio verde, Abreu cita como exemplo empresas de fertilizantes que podem ser beneficiadas em razão da disponibilidade do hidrogênio e amônia. Com esses insumos, “além da energia, as iniciativas também podem produzir fertilizantes”, esclarece a pesquisadora. Segundo ela, o Hub do hidrogênio verde é uma iniciativa recente no Ceará. “A ideia é implantar o Hub numa perspectiva não convencional e trazer a economia circular para o CIPP”, aponta Abreu.

A economia circular tem como propósito aproveitar os resíduos da manufatura de uma empresa transformando-os em matéria prima para outra. Ou seja, ao reaproveitamento dos recursos. Conforme a pesquisadora, “os resíduos entram novamente na cadeia produtiva, mas no ciclo de produção de outra indústria”.

Atualmente o CIPP é um complexo onde as empresas ainda não desenvolvem a perspectiva sustentável. Nesse sentido, o projeto visa a realização de workshops envolvendo os representantes de novas empresas interessadas em ingressar no complexo levando a proposta de planejamento de economia circular para a implementação de um “EcoCIPP”.

Apesar desses empreendimentos representarem um passo para o desenvolvimento industrial, a pesquisadora aponta a necessidade de observar os possíveis impactos ambientais e sociais decorrentes desse avanço. “Isso tem que ser pensado em bases sustentáveis”, sinaliza Abreu. Segundo ela, o estado do Ceará está localizado na área do semiárido, onde existe carência no abastecimento da água, matéria prima para a produção do hidrogênio e oxigênio. “Por isso, o uso da água precisa ser muito bem planejado, para não haver um colapso do abastecimento atual”, alerta a professora.

Conforme Flávia Collaço, integrante do estudo, por ser produzido a partir de fontes renováveis, o hidrogênio verde tem uma diversidade de usos. No setor industrial, pode ser utilizado como fertilizante quando transformado em amônia verde, assim como convertido em eletricidade ou combustível. 

Segundo Collaço, o projeto já apresenta resultados, como o desenvolvimento de planos de ação focados nas fontes de água que podem ser utilizadas para a produção do hidrogênio verde. Esse planejamento tem como objetivo prever problemas e desenhar cenários com soluções, visando dar apoio às decisões a serem tomadas pelos gestores do processo produtivo.

Imagens: Freepik

 

Sobre o projeto:

O projeto Políticas públicas e respostas corporativas para promoção do desenvolvimento econômico sustentável no HUB do hidrogênio verde com ênfase na economia circular foi contemplado na chamada nº 40/2022, do Edital Pró-Humanidades do CNPq.

Coordenadora: Mônica Cavalcanti Sá de Abreu (UFC)