Por muito tempo acreditou-se que a educação das pessoas com deficiência deveria ocorrer de forma separada, isto é, fora do sistema educacional comum, um formato segregador e discriminatório de ensino que foi progressivamente substituído pelo paradigma da inclusão. No Brasil atual, diversos dispositivos legais amparam o direito de todas as crianças e adolescentes, sem qualquer distinção, de compartilharem os mesmos ambientes de aprendizagem. No entanto, a formação de professores segue sendo um dos desafios, uma vez que a formação inicial não é suficiente para que o professor consiga entender as reais necessidades dos alunos com deficiência em sala de aula. Neste sentido, o e-book “Pesquisas e trabalho colaborativo: práticas para a formação de profissionais da Educação Especial” (Editora Sobama) pode ser de grande utilidade.
As pesquisas do campo da educação especial reforçam alguns fatores necessários em relação à formação continuada dos profissionais da educação, como os conhecimentos específicos a respeito da diversidade, habilidades e necessidades de alunos com deficiência e/ou transtorno do espectro autista, e aqueles com altas habilidades ou superdotação. Outro fator importante é a ampliação da formação relativa ao uso dos instrumentos das áreas de Tecnologia Assistiva (TA), conjunto de recursos e serviços – como equipamentos, dispositivos, estratégias e práticas – que visam promover a autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social de pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida.
Organizado pelos pesquisadores Débora Deliberato, Maria de Jesus Gonçalves e Eduardo José Mancini, o e-book compartilha resultados do projeto de pesquisa “Formação de profissionais da educação especial na perspectiva colaborativa”, cuja proposta é qualificar e capacitar profissionais da educação e da saúde para atuarem nas escolas, em centros de apoio especializados e demais locais que ofereçam apoio aos estudantes da rede pública de educação especial, ajudando-os a desenvolver e implementar recursos e estratégias de
Tecnologia Assistiva (TA) e Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA). O livro reforça a importância da relação entre a educação e as novas tecnologias, embora se saiba que o uso de recursos tecnológicos de apoio ainda continue sendo um desafio na rotina das escolas.
“Pensar nos alunos da educação especial na escola significa pensar em ações para que todos os alunos possam mudar da situação de não aprendizado para a aquisição da leitura e escrita significativa. Sendo assim, as ações devem envolver profissionais da educação e da saúde e estabelecer programas de intervenção por meio da Tecnologia Assistiva e da Comunicação Aumentativa e Alternativa”, afirmam os organizadores da coletânea.
Segundo eles, a forma como a TA e a CAA serão implementadas e utilizadas não depende unicamente dos recursos e/ou materiais tecnológicos selecionados, mas sim pelas características do aluno da educação especial e de sua história de vida e do ambiente físico e social em que se encontra.
O e-book é dividido em três partes: a primeira delas trata da Ciência, informação e conhecimento nas práticas colaborativas dos profissionais da Educação Especial e apresenta capítulos que nos remetem à importância da ciência e dos resultados das pesquisas nas ações práticas dos profissionais da educação especial, bem como da necessidade da divulgação desses estudos. Não à toa, a publicação se inicia com o artigo “A divulgação científica em Humanidades – o caso do projeto Humanamente”, assinado pelo jornalista de ciência Washington Castilhos, editor-executivo do portal Humanamente, projeto do Instituto Nacional de Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia (INCT-CPCT/Fiocruz). O texto discute pressupostos que norteiam os estudos e as práticas profissionais da divulgação científica, reforçando a importância da participação cidadã nos processos de pesquisa e nas tomadas de decisão relativas à ciência como um desses pressupostos.
Em seguida, a pesquisadora Maria Elisabete Mendes, do Instituto Politécnico de Portalegre, Portugal, discute em artigo a importância da formação de profissionais no contexto da diversidade, apresentando conceitos fundamentais e abordagens pedagógicas para promover a equidade no ensino.
No terceiro capítulo, a pesquisadora Adriana Garcia Gonçalves, professora no Departamento de Psicologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) apresenta um panorama de temas de pesquisa acerca da Tecnologia Assistiva na Educação.
Nos dois últimos artigos da primeira parte, as pesquisadoras da Universidade Estadual Paulista Viviane Rodrigues e Aila Narene Rocha discutem, respectivamente, o processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem das pessoas com transtorno do espectro autista (TEA) e a utilização da Tecnologia Assistiva com crianças autistas.
Na segunda parte da obra, intitulada Pesquisas Pró-Humanidades na formação e prática de profissionais da Educação Especial, são descritas as pesquisas vinculadas ao edital pró-humanidades (CNPq/MCTI/FNDCT Nº 40/2022), trazendo quatro valiosas contribuições
a respeito da organização do trabalho colaborativo e de estratégias para ampliar a participação dos alunos da educação especial na rotina do contexto escolar.
Na primeira delas, a educadora Débora Deliberato, professora visitante na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), discute importantes pontos relativos à comunicação aumentativa e alternativas na rotina de todos os alunos. No segundo artigo, intitulado Na ponta dos dedos: uma plataforma digital para abordagem complexa do autismo, as pesquisadoras Nize Maria Campos Pellanda e Maria de Fátima de Lima das Chagas, ambas da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), discutem como a tecnologia pode ser aliada no aprendizado de crianças com TEA.
Já o artigo assinado pelas pesquisadoras Rosana Carla do Nascimento Givigi, Laila Bianca Menezes Souza, Louise Carvalho da Conceição, da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e por Sidney Givigi, da School of Computing of Queen’s University Kingston, em Ontário (Canadá), trata da contribuição do uso de robôs e da comunicação alternativa para a escolarização de alunos com deficiência motora.
No artigo seguinte, Rafael Rodrigues Testa discute as tecnologias para o ensino inclusivo de lógica e as inovações visuais, lúdicas e interativas no projeto loglibras, que envolve a produção de videoaulas e materiais didáticos para facilitar o ensino da disciplina de lógica para alunos deficientes auditivos em escolas do ensino médio.
Por fim, na terceira parte do e-book – Práticas colaborativas na formação de profissionais da Educação Especial – são descritos exemplos de ações organizadas para serem
implementadas no contexto escolar frente às experiências das equipes de trabalho da pesquisa “Formação de profissionais da Educação Especial na perspectiva colaborativa”.
No artigo Além do olhar inicial: compreendendo o aluno com deficiência, Maria de Jesus Gonçalves e Eduardo José Mancini discutem sobre como compreender o aluno com deficiência na sua subjetividade, propondo uma reflexão sobre esse processo e enfatizando a necessidade de uma perspectiva interdisciplinar, com a participação ativa de todos os atores envolvidos.
No capítulo seguinte, as professoras da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Carolina Rizzotto Schirmer e Cátia Crivelenti de Figueiredo Walter falam sobre o percurso da equipe do Laboratório de Tecnologia Assistiva e Comunicação Alternativa (Lateca/Uerj) na construção de práticas educativas inclusivas para estudantes com deficiência.
Em seguida, as professoras da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) Stefhanny Nascimento Lobo e Silva e Márcia Denise Pletsch apresentam o caso de ensino como premissa para o planejamento educacional inclusivo, considerando a necessidade em ampliar a discussão científica sobre a temática.
No artigo A comunicação enquanto processo da prática pedagógica na educação infantil, os pesquisadores da UFRN Jacyene Mello de Oliveira Araujo e Wilthon Nunes de Medeiros Filhos abordam contextos e lócus de intervenção da educação especial, assim como os caminhos percorridos e as estratégias e recursos planejados.
No último artigo, Débora Regina de Paula Nunes, da UFRN, Wilfredo Blanco Figuerola, da Universidade do estado do Rio Grande do Norte (UERN) e Mariana Orrico de Azevedo
analisam as demandas acadêmicas e funcionais de alunos com autismo, e a utilização de inteligência artificial em relatórios pedagógicos.
O livro conta com prefácio assinado pelo psicólogo português Vítor Daniel Ferreira Franco, professor e pesquisador no Departamento de Psicologia da Universidade de Évora, em Portugal.
Clique aqui para baixar o e-book.
Sobre o projeto:
O projeto “Formação de profissionais da educação especial em uma perspectiva colaborativa” foi contemplado na Chamada nº 40/2022, do Edital Pró-Humanidades do CNPq.
Coordenadora: Débora Deliberato (UFRN)