Dúvida sobre vacinas predominou entre usuários brasileiros do TikTok

Por Stefanie Oliveira

A dúvida foi a emoção mais frequente entre os usuários brasileiros do TikTok em relação às vacinas contra a Covid-19. Contentamento, confiança, entusiasmo e interesse também foram sentimentos que se destacaram na plataforma durante a pandemia. É o que mostra um estudo publicado em dezembro de 2023 na revista científica Evolutionary Studies in Imaginative Culture. 

O trabalho buscou identificar as emoções mais frequentes nos vídeos relacionados às vacinas contra o novo coronavírus publicados na rede social entre 2020 e 2022.

Os dados foram extraídos pelos autores por meio do TikTokAPI, ferramenta que oferece acesso a uma interface programática não oficial do TikTok, permitindo a extração de metadados associados às publicações, como autoria, data, texto, url dos vídeos e elementos interativos no vídeo, como stickers e música, entre outros. 

Os pesquisadores analisaram 435 vídeos, obtidos a partir da hashtag “#vacina”. Os conteúdos foram classificados em diferentes categorias: pessoal (produzido por pessoas comuns, expressando suas opiniões); informativo (com caráter mais objetivo e informativo, postados por profissionais da saúde, pesquisadores e comunicadores); infotenimento (que mesclam dados e informações com entretenimento); humorístico (baseados em humor, paródia ou sátira) e publicidade (com viés publicitário). 

Para classificar as emoções, os autores se basearam em 56 descritores de emoções, sendo 48 listados pela Human-Machine Interaction Network on Emotion (HUMAINE) como dúvida, medo, satisfação, interesse, entre outros, e oito baseados  em estudos anteriores.

A HUMAINE foi uma rede de pesquisa financiada pela União Europeia entre 2004 e 2009, focada no estudo da interação entre humanos e máquinas com base em emoções. Seu principal objetivo era desenvolver tecnologias que pudessem reconhecer, interpretar e responder às emoções humanas, melhorando a interação homem-máquina. 

Os autores também se basearam no Core Affect Model, modelo teórico usado na psicologia e neurociência para descrever o estado emocional de uma pessoa a partir de dois eixos principais: a valência — que representa o quão positiva ou negativa é a emoção — e a ativação, que indica o nível de energia ou excitação associado à emoção.

Nos 435 vídeos analisados, os pesquisadores identificaram a presença de 34 das 56 emoções. Elas apareceram 1.017 vezes. A “dúvida” — emoção mais frequente — foi identificada 145 vezes, seguida de “contentamento” (115) e “desaprovação” (101). 

De acordo com Geilson Fernandes, professor da Universidade do Estado da Bahia (Uneb) e autor principal do artigo, o estudo amplia o campo de análise de sentimentos e emoções ao ir para além de simplesmente apontar reações positivas ou negativas sobre a vacinação. “Diferentemente de outras pesquisas, buscamos mapear as emoções presentes nesses vídeos, identificando-as e classificando-as.”

Ele explica que o sentimento de dúvida não estava atrelado à eficácia das vacinas, mas, sim, à busca por informações gerais sobre elas.

O “contentamento”, segunda emoção mais recorrente, aparecia nos vídeos em que as pessoas divulgavam os momentos em que foram vacinadas. 

Já a “desaprovação” estava relacionada, na maioria das vezes, a discursos e ações do ex-presidente Jair Bolsonaro referentes à vacinação, ao passo que “ferido”, outro tipo de emoção observada, referia-se aos receios quanto à aplicação da vacina e seus efeitos colaterais.

No que se refere à valência emocional, das 1.017 vezes em que as emoções ocorreram nos vídeos, 553 eram positivas e 464 negativas, e em relação aos níveis de ativação, 410 tinham um alto grau de excitação e 607 um grau de passividade.

A análise revela um panorama sobre a forma como o público brasileiro percebe as vacinas no TikTok. A pesquisa ofereceu dados para entender o debate em torno de um tema de saúde pública dentro de uma plataforma amplamente utilizada pelos brasileiros. 

“Compreender essas dinâmicas é essencial para identificar os fatores que influenciam a adesão ou resistência à vacinação”, afirma Fernandes. “Os dados podem contribuir para a criação de políticas mais eficazes na promoção da confiança e da segurança das vacinas, a partir do momento em que se entende as emoções da população”, complementa. 

Os resultados da pesquisa destacam a relevância deste tipo de análise para investigações futuras sobre a vacinação em diferentes plataformas e formatos.